Trazemos à exposição aspectos relacionados ao modelo Biopsisossocial proposto pela OMS na CIF - Classificação de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (OMS, 2003).
Segundo Costa (2006), o foco na construção dos indicadores de saúde se deslocou da mortalidade para a morbidade e mais recentemente para as consequências das doenças crônicas. Com o estabelecimento de uma maior sobrevida das pessoas, o foco de algumas profissões de saúde tem ultrapassado a doença em si e centrado os processos de atenção nos impactos das doenças na funcionalidade e incapacidade humanas.
A compreensão do processo de incapacitação possui uma história permeada por uma longa leva de discussões e publicações que vem desde Nagi (1965), perpassando pela ICIDH (OMS, 1980) e a ICIDH (OMS, 1999). Em todas estas o objetivo comum é o de compreender e modelar o processo saúde – doença – incapacidade. Nestes três modelos anteriores à CIF as explicações estão baseadas em relações lineares, que não conseguiram explicitar de forma completa a complexidade do processo.
Além deste fator (linearidade x complexidade), uma outra divergência permeia esse histórico: o modelo biomédico versus o modelo social O modelo biomédico tem origem na profissão médica e reflete o interesse na deficiência, doença ou "anormalidade" corporal e na maneira como isso produz algum grau de incapacidade ou limitação funcional. Por outro lado, a sociologia sugere que o significado de deficiência e de incapacidade emerge de contextos sociais e culturais específicos. (Sampaio e Luz, 2009)
Neste contexto a CIF surge como uma alternativa de solução para os dois embates. Ao propor a integração e possibilidade de ação conjunta de fatores biológicos e sociais e ao apresentar uma estrutura modelar multifatorial e multidimensional, o modelo biopsicossocial proposto pela OMS integra as dimensões de saúde.
Segundo Farias e Buchalla (2005) os conceitos apresentados na classificação introduzem um novo paradigma para pensar e trabalhar a deficiência e a incapacidade: elas não são apenas uma conseqüência das condições de saúde/doença, mas são determinadas também pelo contexto do meio ambiente físico e social, pelas diferentes percepções culturais e atitudes em relação à deficiência, pela disponibilidade de serviços e de legislação.
O modelo é mostrado na figura abaixo.
Com base na abordagem da CIF, este pequeno comentário sugere a investigação no sentido do estabelecimento de modelos multidirecionais para a compreensão do processo saúde – doença – cuidado
João Paulo Vieira
Fisioterapeuta
REFERÊNCIAS:
FCosta JLA. Metodologias e indicadores para avaliação da capacidade funcional: análise preliminar do Suplemento Saúde da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, Brasil, 2003. Ciênc Saúde Coletiva 2006; 11:927-40.
Farias N e Buchalla CM. A classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde da organização mundial da saúde: conceitos, usos e perspectivas. Rev. bras. epidemiol.. 2005, vol.8, n.2
Nagi SZ. Some conceptual issues in disability and rehabilitation. In: Sussman MB, editor. Sociology and rehabilitation. Washington, D.C.: American Sociological Association; 1965.
Organização Mundial da Saúde. Classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde. São Paulo: Edusp; 2003.
Organização Mundial de Saúde. Icidh-2: Internacional classification of functioning and disability. Genebra: Organização Mundial de Saúde; 1999.
Organização Mundial de Saúde. International classification of impairments, disabilities and handicaps: a manual of classification relating to the consequences of disease. In: Saúde OMD. Genebra; 1980.
Sampaio RF e Luz MT. Funcionalidade e incapacidade humana: explorando o escopo da classificação internacional da Organização Mundial da Saúde. Cad. Saúde Pública. 2009, vol.25, n.3